segunda-feira, 15 de março de 2010

Introdução: Museu BHistória


A proposta da primeira etapa do trabalho integrado consiste na construção de uma narrativa a partir do estudo de apropriação de um vazio no hipercentro de Belo Horizonte para a elaboração de uma personagem que deve vivenciar a intervenção.
Para tal, o grupo foi visitar a área a fim de selecionar o espaço a ser trabalhado, utilizando estratégias discutidas em sala de aula como a errância sugerida por Paola Berenstein Jacques em seu texto Corpografias urbanas. Errar, ou seja, a prática da errância, pode ser um instrumento da experiência urbana, uma ferramenta subjetiva e singular, ou seja, o contrário de um método ou de um diagnóstico tradicional. A errância urbana é uma apologia da experiência da cidade, que pode ser praticada por qualquer um (...) O errante não vê a cidade somente de cima, em uma representação do tipo mapa, mas a experimenta de dentro.”
Praticamos com tanta perfeição tal experiência que até as pessoas que vivenciam aquele local perceberam que éramos errantes à medida que não seguíamos o fluxo que obrigatoriamente as pessoas que usam o espaço estão habituadas. Isso atraiu para nós os olhos da marginalidade, trazendo uma abordagem inesperada, assustadora e traumatizante. Posso até dizer que seria cômico se não tivesse sido trágico. A princípio tivemos uma certa aversão aquele lugar, até que nos convencemos que a maneira mais eficaz de mudar aquela realidade é torná-lo um lugar melhor.
O desafio então era achar um vazio urbano, mas vazio na principal cidade do estado? Onde? Quase impossível acreditar que uma cidade que sofre um processo de conurbação com suas vizinhas, que sobe os morros e atravessa as serras possa ter áreas pra serem chamadas de vazios urbanos ainda mais se tratando de um hipercentro. A verdade é que essa palavra não é mais objetiva para definir esses espaços. Eu os chamaria de esquecidos, desinteressantes, pouco atrativos. O de nossa escolha, por exemplo, está sendo desocupado o que também não deixa de ser uma definição.
Com o lugar escolhido faltava agora a idéia. Ao ler o texto Fantasmas da Cidade Moderna percebemos que a chegada da nova e moderna cidade de Belo Horizonte trouxe com ela o esquecimento do Curral Del Rey tornando fantasmas seus moradores, seus hábitos e costumes. Assim escolhemos contar da história de Belo Horizonte sem nos esquecermos de quando ela nem ao menos se chamava Belo Horizonte, quando era apenas um arraial com sua vida rural e nem por isso pacata.
Percebemos também que as pessoas que andam por ali estão, na maioria das vezes, de passagem fazendo deste lugar dinâmico. Toda essa dinamicidade nos inspirou a criar um museu de passagem, sensação corporal, de sentidos, de experimentação e fluidez. E também com a intenção de fazer uma conexão entre nosso Museu e o Circuito Cultural à margem do Ribeirão Arrudas.
O personagem foi pensando desde o momento em que o nosso projeto ainda era informe, assim também como o diálogo entre ele, o lugar escolhido, a proposta e a cidade. Tinha que ser um personagem inovador assim como a proposta, dinâmico assim como o lugar e tradicional assim como a cidade. E o personagem Celton criado pelo quadrinista de rua Lacarmélio Alfeo se encaixava perfeitamente nesses pré-requisitos, além de ser uma personalidade de BH, ele tem a cara dos belo-horizontinos com seu espírito batalhador e que leva a vida que as vezes não é tão fácil, sem esquecer do humor.

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