
Eugênio da Silva, artista plástico brasileiro reconhecido, principalmente pelo seu trabalho na década de 70, nasceu em 1938, na época em que seu pai, um aristocrata proprietário de terras, sofria a grande crise cafeeira do país. Em 1951, aos 13 anos, levado por sua mãe, visitou a I Bienal de Arte Moderna realizada em São Paulo. A Bienal revelou obras importantíssimas de artistas como Picasso, Pollock, Portinari, entre outros.
A partir dessa visita, Eugênio se motivou a fazer desenhos, mesmo que ainda sem tanta pretensão. O que começou aos 13, aos 15 da Silva aperfeiçoava cada vez mais seus traços. Aos 18, finalmente decidiu, então, estudar artes plásticas. Saiu de casa para morar no Rio de Janeiro e tentar se matricular na recentemente renovada Escola de Belas Artes. Na escola se destacou com sua mente criativa e inventiva. Ainda como aluno, já no fim da década de 60, teve seu trabalho reconhecido e exposto. Da Silva impressionava com suas texturas inovadoras e era visto como uma promessa da nova geração, pós-moderna, de artistas. Na década de 70 já era, então, respeitado no meio artístico. Característica principal de Eugênio da Silva, seus quadros carregavam críticas à ditadura, imposta por militares no Brasil, e tratava tal assunto de maneira ácida e obscura. Em geral, expressava algum acontecimento espetacular ligado à repressão, de maneira distorcida e surrealista. Era a maneira de representar as deformações de um governo antiquado e injusto. As texturas empregadas nas obras era um grande diferencial nas manifestações do artista.
Em 2010, durante os preparativos do Espaço Parangolé, a organização convidou Eugênio para inaugurar o ateliê/exposição. Pensou-se no artista pelo seu passado de luta contra a ditadura e censura, e por ter sido contemporâneo e amigo de Oiticica, homenageado ao nomear o local. Normalmente preocupado com a liberdade de expressão e com questões sociais, os organizadores do espaço entenderam que o artista veria com bons olhos o objetivo do Espaço Parangolé. E seria também uma boa oportunidade para Eugênio voltar a ser comentado no cenário nacional de arte. Após os anos 70, Da Silva perdeu visibilidade no meio.
A organização foi, então, atrás do artista. Após explicar o projeto, Da Silva demonstrou desinteresse, alegando ser pouco relevante para a sua trajetória como artista. A ideia lhe pareceu utópica e não valia à pena vir do Rio para se envolver em tal projeto. Ele, ainda, não gostava da ideia de dividir uma criação sua com outra pessoa. Com a recusa, decidiu-se então dar prosseguimento nos preparativos para a inauguração com um artista local.
Um ano após, Eugênio iniciara um novo projeto para exposição no Rio. Um promotor da exposição comentou, por acaso, sobre uma galeria, em Belo Horizonte, que estava ganhando repercussão e popularidade na cidade. Perguntou para Da Silva se sabia a respeito. O artista se mostrou indiferente e não respondeu. Em casa pesquisou sobre o assunto. A notícia era surpreendente. O Espaço Parangolé era visto como uma grande promessa e revolucionário na forma de levar a arte para o público. Meio atordoado com o que havia lido, Eugênio decide, ainda antes de sua exposição, ir para BH para entender tamanha projeção.
Da Silva chega a Belo Horizonte e vai até o Espaço. Lá, foi imediatamente reconhecido pelo funcionário incumbido de realizar o cadastro para entrar no prédio. Obviamente, o funcionário não sabia do acontecido de um ano atrás e disse que seria uma honra cadastrar o artista. O que não deixava de ser verdade. Ele achou estranho, o fato do funcionário saber quem ele era, entrou e se encaminhou direto para o ateliê/exposição. Lá, Eugênio ficou paralisado. O que ele via ali era mais forte que um soco contra seu rosto. A diversidade nas manifestações, reunidas num lugar só, era emocionante. De uma riqueza fascinante. Ainda mais sabendo quem eram os autores. Qualquer um. Da Silva se sentiu tão pequeno naquele lugar que o deixou logo em seguida. Sem contribuir com nada ali.
Eugênio retorna ao Rio e não consegue tirar da cabeça o que presenciara na capital mineira. Após dois dias, faltava uma semana para sua exposição, ele toma uma decisão. Sua exposição seria outra. As obras que seriam apresentadas, não mais fariam parte do evento. Ainda impactado com o Espaço Parangolé, ele decide, então, expor uma série de quadros em branco, com tinta e pincel disponível ao público. Eugênio fez desse espaço para sua exposição, sua última manifestação artística. Aos setenta e três anos, ele percebe que já havia contribuído o suficiente para cultura brasileira e que seu último ato seria um empurrão no que ele considerou ser a nova forma de expressão artística. Já no dia seguinte, chegava ao endereço do Espaço Parangolé, uma correspondência. Um convite para um certo evento chamado “Seja Herói”, por Eugênio da Silva.
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