segunda-feira, 15 de março de 2010

Enzo Campanharo e Fun House

Depois das idéias elaboradas com Lucas, Enzo procurou um ateliê de arquitetura. A reunião com o arquiteto foi tranqüila, Enzo era capaz de descrever seus desejos na reforma do prédio de modo tão detalhado, que o profissional tinha o insight perfeito do lugar, não sendo difícil elaborar o projeto da forma esperada. O arquiteto sugeriu o aproveitamento de toda a área do segundo pavimento, aumentando completamente seu espaço, sugestão acatada na mesma hora por Enzo, nos demais detalhes estavam de acordo com praticamente tudo, em questão de espacialidades as mudanças não seriam tão radicais, a decoração seria o próximo ponto.
Enzo esperava que sua Fun House fosse mais do que uma casa noturna comum, esperava sensações mais intensas, para isso optou por um interior todo de paredes pretas para que a visão fosse bem limitada, seus projetores de fumaça não liberariam apenas fumaças, mas essências exóticas, inusitadas, todos os assentos teriam tecidos de tato peculiar e único, as bebidas servidas seriam as mais diversificadas e ousadas com origens em todo mundo, as músicas intensas e finalmente um telão seria o responsável por imagens diferentes, inesperadas; todos os sentidos maximizados em seu clube dos sonhos.

Modelo 3D

1º Pavimento





2° Pavimento



Maquete Física - 1º Pavimento




2° Pavimento





Considerações Finais de Enzo Campanharo

Alguns meses se passaram, as obras da casa noturna transcorreram tranquilamente, apesar do atraso e a entrega fora do prazo, ela estava ‘finita’ e pronta para ser experimentada.
Enzo saiu cedo aquele dia, apesar de sua casa ser próxima de seu destino (sua boate que seria inaugurada naquele mesmo dia), tentava controlar toda a intensidade de sentimentos, talvez o tempo de sobra o ajudasse a relaxar. Enquanto percorria as ruas, pensou em tudo que se passara nesses últimos tempos, em como sua vida fora do ostracismo total ao exultante momento da realização de um de seus maiores sonhos, a responsabilidade por essa mudança, ele atribuía a seu filho, Lucas, cuja presença simplesmente tornava intolerável qualquer tipo de sensação ruim ou pessimismo; refletia também em como tudo ocorrera da maneira correta, parecendo conspirar a seu favor, tudo indicava que seu filho estava certo e seu lugar ao sol estava pronto para ser ocupado. Reflexões a parte, Enzo, se ateu simplesmente a sentir tudo que estava a sua volta, havia 2 anos que perdera sua visão, com isso conseqüentemente todos seus demais sentidos aguçaram absurdamente, era impossível não se divertir percorrendo aquele trajeto já tão familiar com sua “nova super percepção”, sabia exatamente onde estava a qualquer momento...: a brisa leve e o barulho de crianças ao cruzar a praça, o cheiro de pão quente da padaria, os pequenos buracos na calçada em frente a borracharia, o ruído do ônibus logo depois de dobrar a esquina; Enzo chegou a um ponto em que não precisava dos olhos para ver o mundo, ele o sentia vivo em cada parte do seu todo, e mal podia esperar para sentir sua vibrante Fun House naquela noite. Ao escutar o sons de três ruas cruzando um ponto em comum e tocar a sólida grade de contenção, sabia que tinha chegado a seu destino, seu coração sofreu um leve descompasso, depois de se recompor subiu as escadas, reuniu seus funcionários e examinou todos os detalhes para a inauguração, foi para casa e se preparou, com a ajuda de Lucas para sua grande estréia.
A noite transcorreu de forma perfeita, Enzo sabia que todas as sensações que estava sentido não eram apenas seus sentimentos falando alto, não, era muito mais do que isso todas suas idéias funcionaram, o lugar era um estímulo a todos os sentidos humanos, ele conseguiu fazer com que pelo menos por algumas horas, muitas pessoas estivessem exatamente na mesma condição que a sua e pudessem experimentar toda a plenitude de sua densidade em sentir e perceber tudo a sua volta. A Fun House tornou-se mágica para ele aquela noite, passou a fazer parte quase física de sua existência, o refúgio onde tudo é intenso demais para ser esquecido. Naquele momento, teve uma espécie de clarividência, pode vislumbrar seu futuro e o de seu filho, se sentiu completo novamente, percebeu tudo além do que achava que fosse sua limitação eterna (sua cegueira definitiva), se desvencilhou de seus fantasmas e partiu para aquela que seria de agora em diante sua vida, sua rotina diária, seu mundo fantástico, onde ele pode brincar e ser feliz indefinidamente, sem restrições, apenas com a certeza de que era capaz de enxergar sim, enxergar além...


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