História
Agradecimentos à dona Amélia dos Santos e por que não ao senhor Joel da Silva, pais de Firmino dos Santos Silva, nascido em 19 de setembro do ano de 1978 em uma pequena cidade próxima a capital das Minas Gerais. Longa estatura, cabelos crespos, magro e de olhos negros, que aparentavam sempre distantes, foi criado em uma pequena fazenda na região metropolitana de Belo Horizonte. Firmino, desde criança, era apelidado de nino pelos seus avós maternos, os quais tiveram papel importante em sua criação. Seus pais eram pessoas simplórias que batalhavam pelos seus objetivos, mas que não estavam prontos para receber o papel da criação de uma criança. Amélia ainda era muito nova e Joel era cerca de dezesseis anos mais velho que sua companheira. Após a noticia da gravidez de Amélia, o senhor Joel não teve como escapar de suas obrigações e foi logo se casando por pressão de seus sogros. Tempos mais tarde, dona Amélia decidiu-se por separar-se de seu marido, o senhor Joel da Silva, assim que Nino completara sete anos de idade por motivos de casos extraconjugais e alcoolismo.
Nino era um garoto de personalidade marcante, muito curioso e agitado, sempre sumia de manhã e aparecia à noite com algum marco que caracterizava a sua longa caminhada para locais os quais ele considerava desconhecido. Na medida em que o tempo ia passando, as necessidades de manter o lar se tornavam mais complicadas. O fato de Joel não participar mais das atividades financeiras da casa acabou por obrigar que Amélia largasse parte dos estudos e também ao fato de que nino começasse a trabalhar cedo ordenhando vacas em uma fazenda não muito distante de sua casa. Não era o que nino queria, ainda com dez anos também não deu prioridade aos estudos, mas foi de extrema importância em momentos de desespero de sua mãe com sua palavra acolhedora, alguma das vezes assumia o papel de homem da casa com os míseros cruzados que lhe eram pagos.
Já com onze anos nino decide que gostaria de voltar para escola, local que lhe trazia boas lembranças, após longa conversa com a mãe os dois chegaram à conclusão de que os estudos eram sim importantes para o pequeno garoto e que apesar de tudo ele não deixaria de dar sua colaboração financeira já que também não desejava parar de trabalhar, nino sentia certa autonomia e poder por ter renda própria. Firmino era filho único, porém partilhava de grande quantidade de tios e primos com quem sempre estava presente, um de seus tios notou a satisfação e a tranqüilidade que a música trazia a nino, pois possuía em sua pequena casa uma vitrola conservada e alguns vinis de música popular brasileira, com isso nino se divertia e passava incontáveis horas tentando desvendar a mágica de como uma agulha e um disco preto reproduziam tal som. Sua primeira grande surpresa foi quando seu padrinho, que também era um de seus tios o presenteou com uma velha gaita de sopro que era de seu avô materno, em seu aniversário de doze anos. O padrinho, ainda lembra a reação do menino após freneticamente abrir o embrulho de papel que envolvia a surpresa, foi gratificante ver nino olhar assustado para o que estava em suas mãos sem saber exatamente como usar aquilo, foi quando outro tio pediu-lhe permissão para usar a gaita e a levou a boca soprando-a, reproduzindo sons que instigavam a imaginação de nino, o mesmo se perguntava como aquilo era possível, foi ai que o tio devolve a gaita a nino e pede para que ele também use seu novo presente. Nada mais que sonoros ruídos irritantes nino reproduzia, no entanto sempre após a aula, seja no trabalho, ou no campo, lá estava a gaita juntamente a ele. Apto aos estudos nino, também procurou formas de entender a música, conversou com professores que lhe ensinaram coisas básicas como notas musicais e outros tipos de instrumentos, seu professor de geografia da pequena escola em que estudava gostava muito de freqüentar um bar próximo a casa de nino, ele sempre estava lá com seu violão e sua inconfundível voz rouca, a qual o garoto sempre caçoava com seus companheiros. Ao encontrar seu professor no bar enquanto passava atentamente procurando com o quê se divertir, presenciou uma cena e ficou realmente pasmo, “não acredito que aquela horrível voz faria uma dupla tão boa com um violão e leves doses de cachaça”, exclama nino. Senta-se em uma das cadeiras próxima ao professor com a desculpa de que estava ali para buscar alguns cascos de cerveja para o avô e tios, passa minutos ouvindo o som de seu professor e logo arranca de seu bolso sua gaita de sopro. Quando começa a tocar, logo o velho professor para e brinca, “irritante o som que você reproduz, hein?”, fazendo com que nino caia na risada. Assim eis que surge a grande chance, nino estava ali somente para poder usar o violão, aproveita então o fato do professor ir ao balcão tomar uma dose de cachaça e rapidamente toma posse do instrumento, ensaia ali mesmo alguns ruídos que, apesar de desafinados o divertiam bastante, era como a autonomia que nino sentia com o trabalho, algo que no momento nino definiu como uma autonomia musical, ele já não apenas ouvia som, também poderia reproduzir, assim como a velha vitrola. Continuava a mesma vida de sempre e o tempo passava, nino estudava e trabalhava, porém muito mais tranqüilo uma vez que as dificuldades vividas a cinco anos atrás já não eram problemas, a família era forte e conseguiu se manter em todos os momentos de instabilidade financeira, sendo assim, o garoto junta uma pequena quantia de dinheiro e compra de alguns sertanejos que, sempre estavam de passagem pela pequena cidade, um belo violão. Aos quatorze anos nino completou o ensino fundamental e se viu sem oportunidades a altura para continuar com os estudos da forma que desejava. Foi ai que aproveitou a chance que um de seus primos lhe deu e partiu para a capital sem nenhuma dúvida, esse já parecia ser seu destino. Antes de partir, despediu-se de todos, inclusive do pai e prometeu sempre voltar quando puder.
Adaptando-se a um novo cotidiano.
Em sua chegada à capital tudo era novo, era como nino imaginava, não existiam mais aqueles enormes campos gramados, inúmeros cavalos e vacas, nem mesmo a tranqüilidade do campo, tudo era agitação e nino deveria ser cauteloso. Conheceu sua prima mais velha, a qual cedeu um quarto para que nino pudesse dormir, guardar suas coisas e estudar, conheceu então sua nova escola no centro da capital e também visitou pontos turísticos de Belo Horizonte. No seu primeiro dia de aula o garoto parecia assustado, as coisas eram bem diferentes, a começar pela quantidade de pessoas que ao menos se conheciam, era um circulo diferente de convivência e o garoto sofreu no inicio por não se adaptar bem ao cotidiano. Assim fez alguns colegas e seguiu seu caminho estudando e trabalhando com sua prima em uma loja produtos no mercado central. Essa foi uma ótima experiência para nino, em seu dia a dia depois das aulas corria para o trabalho percorrendo o centro da capital, conheceu diversas pessoas e participou de inúmeras situações inusitadas. Na escola nino não era destaque, mas também não se comprometia, gostava de cumprir as tarefas, mas conversava bastante e matava algumas aulas. Conheceu Paulo com quem teve bastante contato com música, Paulo tinha uma pequena banda e tocava bateria, instrumento o qual nino não tinha nenhum domínio. Por amizade, Paulo permitia a nino participar das atividades da banda, apesar de nino não mostrar nenhum potencial para tocar, porém, com prática o garoto desenvolveu certa habilidade em instrumentos de corda e tecla. Usava também sua gaita como um amuleto musical.
Sua banda ensaiava em um local pouco apropriado, e quando conseguiam alguns trocados acabavam o gastando muito facilmente, estúdios musicais não eram acessíveis.
Após completar dezenove anos a banda que nino tocava, conseguiu um grande feito, participar de um evento musical que ocorria em um grande ponto turístico da capital, a praça da estação. O garoto tremia e ao mesmo tempo sentia a adrenalina do local, seria sua primeira apresentação para o público em frente a um palco. Nino se saiu muito bem nos vocais e violão, assim, recebendo mais convites e participando mais da cena musical mineira, entretanto esse não era o desejo de nino, ele se divertia muito mais ao conhecer pessoas e seus perfis, principalmente se a pessoa trouxesse alguma contribuição musical. Freqüentava a favela perto de sua escola, conheceu garotos que considerou potencial, eles faziam rap e se encontravam com o mesmo problema de nino, pois, sem patrocínio e um lugar propicio para fazerem suas mixagens acabavam por ficar apenas na brincadeira. Nos ensaios de sua banda nino convidou os garotos da favela para que pudessem conhecer um pouco mais sobre equipamentos, treinaram juntos e até montaram uma música.
Novas Propostas Musicais. Um centro para representar a Música da Capital.
Nino e sua banda eram constantemente convidados para participarem de pequenos eventos, um deles foi um festival de bandas na Universidade Federal de Minas Gerais. Nino após sua apresentação na UFMG conheceu alguns alunos que cursavam engenharia civil, os mesmos participavam de algumas atividades que ocorriam no prédio do centro cultural e o convidaram a conhecer, o garoto não hesitou e conheceu o centro, participou de atividades de desenho e arte, porém sentiu falta de uma coisa; “onde trabalhar som?”, questionava nino. Acompanhando atividades do centro cultural acabou por tornar-se conhecido no local. Presenciou aos vinte e um anos de idade uma iniciativa que partia do centro cultural. Trabalhar o entorno do local, construindo algo que integrasse a antiga biblioteca de engenharia ao resto do centro, uma das propostas era a construção de um centro musical de referencia para a cidade. O jovem nino, bastante interessado na construção tratou de participar da escolha da melhor maneira que lhe era possível, saiu as ruas, divulgou em shows, reuniu assinaturas e apresentou a proposta ao diretor do prédio. Como a idéia era boa e as pessoas comprovaram em seus relatos e assinaturas de que necessitavam de um espaço musical acessível e de qualidade, a obra teve início. Decidiram então, homenagear um grande ícone da musica popular brasileira, o nome de Chico Buarque foi escolhido. Essa foi uma das maiores conquistas de nino, o complexo musical faria parte de um órgão publico, barateando o preço de uso dos seus serviços. Ele se apresentou no show de inauguração do centro e foi convidado para participar dos cursos oferecidos. Ministrou palestras e aulas, divulgou os serviços que o centro prestava, trouxe a população, a possibilidade de trabalhar música como forma de aprendizado e montou um programa para jovens carentes conhecerem o ambiente.
Nino assim acabou por tornar-se famoso ao descobrir inúmeros talentos os quais só esperavam uma oportunidade para demonstrarem seu valor. Ria e pensava, considerava o Complexo Chico Buarque tudo que sempre desejou em sua infância, no entanto se sentia muito bem em dar às pessoas a oportunidade que nunca teve.
Nenhum comentário:
Postar um comentário